quinta-feira, fevereiro 26, 2009

O PERIGO DA ADOÇÃO DE DIETAS


Frequentemente, jornais e revistas abordam o tema “dieta”. O mais curioso é que um mesmo veículo costuma publicar matérias totalmente contraditórias sobre o assunto. Uma semana falam sobre os benefícios da dieta X, para, na semana seguinte, dizer que a tal dieta não funciona e o que resolve mesmo é a dieta Y. É claro que isto só acaba por confundir o leitor leigo no assunto, além de não alertar sobre os potencias riscos na adoção de dietas. Desta forma, os meios de comunicação prestam um desserviço à população, ao invés de esclarecer, só confundem mais. Portanto, é interessante destacar quando vemos notícias que podem ajudar a população, ao invés de atrapalhar. O jornal Folha de São Paulo publicou em agosto uma matéria que alerta sobre o perigo das dietas da moda. Tal matéria teve como motivação a indenização de uma mulher de 52 anos britânica que sofreu danos cerebrais ao seguir uma dieta dita de desintoxicação. “A Incrível Dieta da Hidratação” (“Amazing Hydration Diet”) pode levar a sérios distúrbios eletrolíticos, devido ao enorme consumo de água (5 litros diários) e restrição do consumo de sódio (presente no sal).
Embora condenadas pelos profissionais de saúde, as dietas da moda continuam sendo muito procuradas. A cada mês surgem novas dietas, ou até “ressucitam” antigas dietas, somente com um novo nome. É o que ocorreu com a “Dieta da Proteína”. De autoria de Robert Atkins, fez sucesso na década de 70, prometendo rápida perda de peso às custas de restrição rigorosa de carboidratos e grande consumo de proteína. Mais recentemente, tal dieta voltou a ser lançada, com novo nome, ou até mesmo por meio de uma variedade mais “branda”, como a “Dieta de South Beach”. A adoção da “Dieta da Proteína” pode levar à perda de massa muscular, aumento das concentrações de colesterol e comprometimento da função renal. Além disso, a restrição de carboidratos leva a alterações do humor, dores de cabeça, mau-hálito, obstipação intestinal e redução da tolerância à atividade física.
Outra dieta da moda que ficou famosa nos últimos anos é a “Dieta do Tipo Sanguíneo”, de autoria de Peter J D’Adamo, que prega que cada tipo sangüíneo requer tipos diferentes de alimentos, ou até mesmo a exclusão total de alguns deles. O curioso é que o autor, que provavelmente já vendeu milhares de livros às custas da crença e ingenuidade alheias (e, claro, de um bom trabalho de marketing), não possui sequer um trabalho publicado sobre este assunto em revistas científicas confiáveis. Portanto, além de não possuir nenhum embasamento científico, esta dieta ainda pode levar a restrições perigosas de alimentos importantes para a manutenção da saúde.
Atualmente, têm feito muito sucesso, inclusive com divulgação pela internet, as dietas de “desintoxicação” (segundo a matéria da Folha de São Paulo, foram encontradas 1050 páginas a internet sobre o tema). O objetivo seria “limpar” o organismo das “toxinas” resultantes do metabolismo de alimentos “não-saudáveis” e, claro, causar perda de peso. O excesso de aspas aqui se justifica pelo seguinte: primeiro, nosso corpo não fica “sujo” devido à ingestão de alimentos, o que ocorre é que o nosso organismo metaboliza os nutrientes encontrados nos alimentos e, naturalmente, possui mecanismos de eliminação daquilo que não será utilizado. O fígado é um dos órgãos responsáveis por esta metabolização. Segundo, em relação às “toxinas”, nenhum alimento é tóxico ao organismo, a não ser que esteja literalmente estragado. Neste caso (o da intoxicação alimentar), o nosso organismo também reage naturalmente, se houver necessidade, por meio dos já conhecidos sintomas de intoxicação alimentar, como vômitos e diarréia (que por si só já são bastante perigosos à saúde). Por fim, não existem alimentos “não-saudáveis”. Todos os alimentos, inclusive os mais condenados (como doces, açúcar e guloseimas), podem fazer parte de uma alimentação saudável, desde que em equilíbrio com os demais.
As dietas ditas de desintoxicação são, portanto, mais uma tentativa de se vender uma nova promessa de saúde e perda de peso milagrosa. As suas conseqüências podem variar desde fraqueza e distúrbios gastrointestinais até arritmias cardíacas e alterações metabólicas graves que podem levar à morte por perda e desequilíbrio hidroeletrolítico (principalmente envolvendo o sódio, potássio e magnésio). Para aqueles que ainda acreditam que vale a pena arriscar tudo para perder peso, este tipo de dieta leva somente à perda por desidratação, transitória e rapidamente recuperada, lembrando que grandes oscilações no volume sangüíneo podem promover maior retenção hídrica (inchaço). É o famoso caso do tiro que sai pela culatra.
Finalizando, é sempre bom enfatizar que, se existisse pelo menos uma dieta que funcionasse, não existiriam tantos livros e revistas semanais sobre o tema!

Texto: Viviane Ozores Polacow

domingo, fevereiro 15, 2009

CARTA ENCAMINHADA AO GAROTA FANTÁSTICA

Domingo passado (8 de fevereiro) vocês exibiram mais um episódio do quadro "Menina Fantástica". Desta vez vocês colocaram, na casa onde as garotas estão, duas geladeiras: uma com alimentos "permitidos" para as modelos, selecionados por uma nutricionista, e outra com alimentos "proibidos" ou "engordativos". Depois denunciaram que uma das participantes estava com uma alimentação extremamente restrita e até foram exibidos depoimentos das concorrentes. Como profissionais e estudantes de nutrição ficamos chocadas, por dois motivos.
Inicialmente porque não existem alimentos "proibidos" ou "permitidos", "ruins" ou "bons", "que emagrecem" ou "engordativos". A chave para uma alimentação equilibrada é justamente a combinação de todos os grupos de alimentos (cereais, laticínios, legumes, verduras, frutas, leguminosas, carnes, doces, gorduras etc), ainda mais na idade em que estas meninas estão! O importante é ajustar a quantidade e frequência dos alimentos. Só isso. Inclusive a Associação Americana de Nutrição preconiza que os nutricionistas não classifiquem os alimentos isoladamente e sim falem da alimentação como um todo, evitando condenar ou glorificar alimentos específicos.
O segundo motivo pelo qual o programa me desagradou foi pelo fato de que houve uma crítica a respeito da alimentação de uma das participantes (aquela comia pouco), sendo que elas estão vivendo nesse ambiente que reforça a preocupação exagerada, radical e distorcida com a alimentação. Como vocês puderam criticar alguém por algo que vocês mesmos construíram dentro do programa? Lembramos da época em que uma modelo brasileira morreu de anorexia nervosa. Todos os meios de comunicação criticaram a indústria da moda, mas esqueceram da sua responsabilidade por terem massificado e divulgado uma cultura que prioriza a magreza e a beleza acima de todas as outras características sociais e que acredita que uma dieta restritiva (com essa visão de alimentos ruins X bons) é saudável. Não basta ter uma nutricionista e uma cozinheira no programa, é necessário trabalhar os valores e significados que a alimentação e o corpo têm nessas situações. Se os profissionais envolvidos agem conforme os ditames da ditadura da beleza, a promoção da saúde e a prevenção de doenças tornam-se inviáveis.
Thaís Leão - Estudante de Nutrição FSP/USP - aluna do curso júnior de transtornos alimentares do AMBULIM